Oeste Bravio

2012/08/30

 
Deus, Pátria, Autoridade!

Estava aqui a pensar que a América deve ser o único país do mundo em que as pessoas gostam de polícias e onde as crianças querem ser polícias quando forem grandes.


2012/08/29

 
Bacorinhos

Hoje vi um filme (excelente) com o Johnny Depp - The Rum Diary -  em que o Hunter S. Thompson citava o Oscar Wilde a propósito duns javardos quaisquer, e eu lembrei-me da Merkel e do Barroso:  eles sabem os preços de tudo, mas não sabem o valor de nada.


 
Republican National Convention

Nunca percebi muito bem como é que se pode viver em paz ao lado destas crianças grandes.  O partido republicano é hoje o partido dos rurais, dos isolados, dos analfabetos, do KKK, dos evangélicos e dos estúpidos.  Tenho tentado ver e ouvir o menos possível sobre este encontro de idiotas perigosos, mas coisas inevitáveis que se acaba por ouvir na telefonia, por exemplo, são de bradar aos céus (mesmo para um ateu como eu):  a ilegalização do aborto e a proibição do casamento gay, a transferência da carga fiscal dos mais ricos para a classe média, a destruição do que resta do serviço público de saúde, a militarização da diplomacia, um ataque ao estado laico e ao ensino da ciência, a privatização do ensino... a lista de banalidades pré-históricas não tem fim.

A Europa evoluíu da barbárie para o estado moderno durante 10 ou 12 mil anos.  A custo, com guerras horríveis pelo meio e episódios de violência inacreditáveis.  Há 70 anos os europeus andavam a meter os vizinhos no forno, aleatoriamente.  Mas os americanos perderam o barco do estado moderno e a cultura nacional foi-se construindo com as convicções dos trogloditas que invadiram o Oeste: isolados, sózinhos, com uma arma e uma cabana de paus, a tentarem arrancar a comida dum solo que era extremamente fértil, mas que desapareceu, erodido, há muitos anos.

Esta gente orgulha-se de ser capaz de sobreviver sem a juda de ninguém.  Não querem dar nada a ninguém e por isso não querem pedir nada a ninguém.  Em suma, não percebem o que é o estado de direito e não acreditam que ele seja desejável, em circunstância nenhuma. 


2012/08/25

 
O país dos exaltados...

Não tenho televisão e tento não ouvir telefonia porque os americanos andam sempre excitados com alguma coisa e são muito cansativos.  Sempre cheios de opiniões definitivas e de insultos para quem não concorda com eles, sempre aos berros, aqui os aborígenes não descansam, não tiram férias, comem em pé (porcarias que não sabem a nada), ou a correr, ou enquando guiam.  E quando vão à igreja é para fazer aeróbica com Jesus.  As igrejas têm bandas rock (más, claro) e eles banboleiam-se durante horas, com os braços no ar e os olhos fechados, e depois vêm cá para fora e querem matar os mexicanos e os homossexuais.

Eu prefiro música barroca a esta berraria contínua e infernal, às 24 horas de "notícias" e às opiniões, sempre mal informadas, dos talk show hosts, e portanto acabo por só ler os jornais na internet, de manhã cedo, ou à noite.

E justamente li agora que hoje, em Nova Iorque, um homem que tinha sido despedido não sei quando, de um emprego qualquer, deu um tiro num ex-colega e a polícia veio a correr, matou-o e baleou nove pessoas que iam a passar.  Há quinze dias, também em Nova Iorque, os polícias mataram um homem que os ameaçou com uma faca de cozinha e fugiu.  Aqui em College Station também tivemos o nosso tiroteio na semana passada.  Morreram três pessoas.  Os americanos matam-se uns aos outros como se houvesse outra vida depois da morte.


2012/08/24

 
Back in Texas...

Voltar para aqui nunca é muito excitante, em primeiro lugar porque o Texas é em geral muito feio.  Os espanhóis não quiseram isto e os mexicanos também não.  Acabaram por vir para aqui uns selvagens do norte da Europa, que se pegaram imediatamente com os mexicanos por causa da escravatura (no México o tráfico de escravos acabou por volta de 1740 e a escravatura foi formalmente abolida em 1829).

Mas chegar aqui depois de passar dois meses na Europa é sempre deprimente.  Uns carros feíssimos, enormes, as pessoas tão gordas que precisam de carros eléctricos para fazer as compras no supermercado, sempre armados até aos dentes, sempre em guerra com o resto do mundo (tirando Singapura e Israel).  Ninguém sabe nada, ninguém percebe nada, ninguém se interessa por nada...  A não ser Jesus (que aqui tem os olhos azuis, fala inglês e odeia os mexicanos e os africanos).  E os impostos, que ninguém quer pagar.  Os americanos acham que as coisas aparecem feitas: escolas, aeroportos, estradas, porta-aviões...

E depois esta visão miserável da vida, de sobreviventes, que não se importam se os vizinhos morrerem de fome (mais fica).  A maioria dos americanos ainda não percebeu que a segurança social foi uma invenção que melhorou a vida de todos (incluindo os ricos) sempre que foi adoptada.  E também não perceberam que o que fez a América um país extraordinário foi ter uma classe média enorme, com poder de compra.  Elegeram o Nixon e depois foram aplaudindo os cleptocratas que transformaram a América neste sovaco mal-cheiroso, sem alma nem rumo. E depois dizem que a culpa é do Obama.

Adorava sair daqui.  Penso sempre que o mundo demorou mais de oito mil anos desde a construção de Çatalhöyük até ao aparecimento do estado social, e que estes selvagens chegaram aqui no século XVII.  A maioria deles na Europa vivia em casas de terra e em palhotas, e como a cultura não mudou ( aesmagadora maioria dos americanos vivem em aldeias isoladas) é natural que eles achem isto um sítio fantástico e o Romney um herói... 
 



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